Thursday, September 29, 2005

Sou actor(não sou?...)

Sempre vos quis explicar o que é para mim ser actor. Queria dizer-vos como é comer as palavras dos outros, mastigá-las, degluti-las e depois cuspi-las, atirá-las ou gritá-las para fora. Como é sentir em nós uma outra vida, um ser estranho a nós, que, com o passar do tempo, nos absorve e se torna parte integrante da nossa maneira de ser e de encarar o mundo.
Começamos por sentir uma comichão nao garganta, depois essa comichão torna-se um formigueiro no cérebro e passa para todo o corpo. O formigueiro intensifica-se cada vez mais e mais e mais...
Quando damos por nós andamos como ele, falamos como ele, pensamos e agimos como ele.
Então, quando o pano sobe, já nao somos nós, somos o outro.

A nossa boca diz palavras que não somos e somos nós ao mesmo tempo. Pensamos crocodilos e algodão, sentimos facas e festas, ouvimos uivos e ultra-sons. As borboletas regurgitam na nossa mão o canto dos cisnes e depois comemos a madeira e os pratos, em vez da refeição. Seguramos as nossas asas nas palmas do pés e incendiamos os olhos à força de os apertarmos. Mas, às vezes, o chão foge mesmo por baixo dos nossos calcanhares, então caimos no espaço cideral da nossa consciencia feita trapo e farrapo e as cobras enrolam-se aos nossos menbros e entram pelos ouvidos para comeram o nosso cérebro raquítico. Nessa altura esperamos que o Deus-Ex-Machina càia dos céus pendurado por uma grua, para nos salvar da lama em que nos afundámos...
Por acaso não encontraram por aí, pois não?

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